O Poder de soltar IV
A importância de ser capaz de soltar é definida em função do paradigma vigente no planeta. Como já explicamos, existem dois tipos de paradigmas: o paradigma real (da Realidade Última) e o não-real (o que ignora a RU). É evidente que estamos no não-real em vista de todos os problemas de todos os tipos que vivenciamos no planeta.
Quando o paradigma é não-real fica extremamente difícil soltar. Soltar é por essência a forma de ser de quem vive no paradigma real. Soltar vai contra tudo que é não-real. O paradigma não-real na prática não tem limites geográficos, nem culturais, nem econômicos, etc. Abrange a tudo e todos. Influi em tudo o que fazemos. É onipresente. Desde a hora que acordamos até dormir. De um jeito ou de outro, todos estamos imersos no não-real ou temos de conviver com ele em todas as áreas de nossas vidas. Na prática estamos submetidos à uma visão não-real da existência. Evidentemente isso cria inúmeros problemas em todas as áreas da vida.
Em termos históricos isso vem desde o tempo dos sumérios, que é a primeira civilização documentada historicamente. Está claro que isso vem de antes, mas só com as tabuas cuneiformes é que temos a documentação de como viviam. Desde o início tudo foi organizado de forma a vivermos no não-real. Isso foi fundamental para o status quo. Com o passar do tempo e o avanço da ciência isso ficou mais estratificado ainda com a separação entre ciência e religião. Agora existe uma explicação científica, mecanicista, materialista, cartesiana, para justificar a vida no não-real. Isto criou uma gigantesca dificuldade para se que se entenda que é possível viver no real. Teoricamente a visão mecanicista explica tudo e passa a ideia de que não há necessidade de saber mais nada, pesquisar ou pensar. Mesmo com o advento da Mecânica Quântica isso continua valendo. A interpretação exclusivamente fenomenológica da MQ impede a visão filosófica da mesma. Somente os efeitos práticos são utilizados. Só se estuda o fenômeno. A Realidade Última não interessa. Isso faz com que fiquemos presos dentro de uma visão de mundo que impede a solução dos problemas criados por esta mesma visão de mundo. Esta forma de ver a vida implica na criação de sofrimentos sem fim de todos os tipos imagináveis. E isso se perpetua a 6 mil anos pelo menos. Na prática essa visão de mundo não é questionada. O soltar não apenas questiona mas muda a forma de atuar em relação a tudo isso.
O fato desta visão não-real ser onipresente em todo o mundo permite moldar a realidade prática da forma que queiram os que tem essa visão não-real. Nada escapa ao âmbito de sua ação, pois uma visão de mundo interpenetra todas as áreas da vida. Nada fica fora da ação não-real. Por exemplo: toda atividade econômica está fundamentada nesta visão de mundo. Como isso é onipresente é muito difícil alguém perceber que está vivendo debaixo de um paradigma não-real. Nascemos e morremos dentro dele. Como uma criança pode perceber que não é real se praticamente todos se comportam como se fosse real? A criança adotará o comportamento que se ajusta à visão predominante. É por isso que soltar é visto com perplexidade. É por isso que é preciso aprender a soltar, quando na verdade deveria isso ser ensinado desde a mais tenra infância.
É claro que essa visão não-real acarreta problemas espirituais inevitavelmente. A realidade é sustentada pela RU, pelo lado espiritual da vida. O lado espiritual são as outras dimensões da realidade. Dimensão no sentido de frequência vibracional. Cada dimensão vibra numa frequência específica, da mesma forma que as rádios e televisões por exemplo. Quando mudamos a frequência mudamos a estação de rádio que estamos ouvindo. Da mesma forma quando mudamos de frequência mudamos de dimensão física. Tudo está no mesmo lugar e o que muda é apenas a frequência. Acontece que este simples conceito é completamente ignorado pelo paradigma não-real. Antes que a ciência fenomenológica apresentasse seus argumentos vivíamos num mundo mais “perto” do real. Agora estamos numa era além daquela visão antiga em que pelo menos acreditava-se em deuses. Agora o que rege é o materialismo na prática. O que uma pessoa ou outra possa acreditar não muda a questão prática da vida, que é dirigida e organizada da forma não-real. Quando uma pessoa não sabe que crédito é dívida fica absolutamente claro o domínio do não-real na prática. Isto na prática chama-se condicionamento. Muitas vezes para a pessoa descobrir que está na visão não-real é preciso muita dor e sofrimento desnecessários. Mas, que são inevitáveis na visão não-real.
O simples fato de mostrar que crédito é dívida é uma forma de soltar o condicionamento. O que antes parecia monolítico já não parece tanto. Houve uma rachadura em todo o paradigma. É uma rachadura minúscula, mas já serve para fazer pensar e avaliar que soltar é a solução. Foram necessários 3 séculos para que isso acontecesse. Tal é a solidez da visão não-real na prática. O fato de isso ter acontecido envolve algumas reflexões. Isso foi espontâneo ou pensado? Isso foi fruto de uma intuição vinda do real? Isso é uma coisa que levará tempo para ser introjetada na vida diária? Qual o significado profundo desta mudança de visão? Quais as implicações práticas em termos de felicidade, alegria, realização pessoal isso tem? Isto muda a visão de mundo quando se analisa profundamente.
A visão não-real na prática sempre foi assim e todos sempre enxergaram desta forma. Tudo funciona dentro da visão não-real. É o que parece pelo menos já que sempre foi assim. É muito difícil pensar que poderia ser de outra forma. Mas, quando um simples conceito abstrato é visto de outra forma a vida pessoal pode começar a mudar. O soltar implica em rever os conceitos todos. Pelo menos passa-se a avaliar que soltar pode gerar mais felicidade do que não soltar. Só o fato de pensar no que é a realidade já é uma atitude de soltar. Isso que tenho diante dos meus olhos é só o que existe? Atrás deste véu existe outro mundo? O que é o tecido do espaço/tempo? Tudo isso começa com uma simples pergunta ou afirmação. Que fica germinando sem cessar.
É evidente que questionar a realidade é desconfortável. A zona de conforto existe para manter a visão no não-real. Tudo está assentado assim. Subconscientemente a pessoa desconfia que fazer essas perguntas fará com que saia da zona de conforto. A consciência expandida nunca volta ao que era antes. A consciência alimenta-se de mais consciência. Acontece que a expansão da consciência por si só é prazerosa. Existe um tremendo prazer em simplesmente pensar. Toda pessoa que já passou 4 horas analisando um problema sem sair do lugar sabe disto. Sem se mexer, sem tomar café, sem falar, só pensando. Esta autoconsciência se expandindo é inerente ao universo. E provoca crescimento e evolução do próprio universo.
Hélio Couto